Qual é a sua?

sexta-feira, novembro 06, 2009

Saudade

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O menino viajou de férias para Miami. Comprou duas camisas do Lakers, iguais. De volta, tornou à praça onde corriam, de manhã, ele e o Velho. Soube que partira. Desde então, troca sempre a camisa na metade exata da corrida. Por outra igual. Vez em quando, chora. Ninguém lhe entende o motivo. Exceto o Velho, sentado invisível no banco em frente à igreja. Que sorri a cada troca de camisa. E chora junto, a cada lágrima do menino.
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segunda-feira, outubro 19, 2009

Horário de Verão

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O insolente horário de verão insiste em esquentar
a cerveja na mesa da calçada. Senti seus olhos
amparando meu seio por detrás do copo. Descansei
meu peito suado na palma do seu olhar.
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quarta-feira, junho 17, 2009

Hiato sentimental

O que o Caetano queria dizer quando escreveu o verso "Segure o meu pierrot molhado", da música Chuva, Suor e Cerveja?
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Não se perca de mim
Não se esqueça de mim
Não desapareça
A chuva tá caindo
E quando a chuva começa
Eu acabo de perder a cabeça
Não saia do meu lado
Segure o meu pierrot molhado
E vamos embolar ladeira abaixo
Acho que a chuva
Ajuda a gente a se ver
Venha, veja, deixa, beija, seja
O que deus quiser
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Ainda que ela esqueça

que ela finja que nada aconteceu, ainda que ela consiga olhar dentro dos olhos dele e não lembrar da quantidade de água que saiu dos dela por culpa dele, ainda que ela não ouça mais certas músicas e lembre dele, ainda que a raiva que ela sente da idiotice que ele fez passe, ainda que ela não queira mais se esconder, que não se importe em contar pra ele como está a sua vida, que ela não tenha medo dele estragá-la, ainda que ela volte a se sentir dele, que ela não sinta mais vontade de nunca mais olhar pra ele, ainda que ela não ache mais que ela pode ser feliz com outras pessoas ou sozinha, mas só com ele, ainda que ela olhe pra ele e pense que ela não deveria sentir o que ela sente, que ela deveria ser maior do que tudo isso, que ela deveria deixar pra lá, aí ainda que ouvir o nome dele volte a colocar um sorriso no seu rosto, ainda que o mundo acabe, existirá sempre esse abismo enorme entre os dois, que é a diferença infinita da definição de amor dela para a dele.

terça-feira, março 24, 2009

Queria morrer um pouquinho

A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
Que eu já tô ficando craque em ressurreição.
Bobeou eu tô morrendo
Na minha extrema pulsão
Na minha extrema-unção
Na minha extrema menção de acordar viva todo dia
Há dores que sinceramente eu não resolvo
sinceramente sucumbo
Há nós que não dissolvo
e me torno moribundo de doer daquele corte
do haver sangramento e forte
que vem no mesmo malote das coisas queridas
Vem dentro dos amores
dentro das perdas de coisas antes possuídas
dentro das alegrias havidas
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Há porradas que não tem saída
há um monte de "não era isso que eu queria"
Outro dia, acabei de morrer
depois de uma crise sobre o existencialismo
3º mundo, ideologia e inflação...
E quando penso que não
me vejo ressurgida no banheiro
feito punheteiro de chuveiro
Sem cor, sem fala
nem informática nem cabala
eu era uma espécie de Lázara
poeta ressucitada
passaporte sem mala
com destino de nada!
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A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
ensaiar mil vezes a séria despedida
a morte real do gastamento do corpo
a coisa mal resolvida
daquela morte florida
cheia de pêsames nos ombros dos parentes chorosos
cheio do sorriso culpado dos inimigos invejosos
que já to ficando especialista em renascimento
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Hoje, praticamente, eu morro quando quero:
às vezes só porque não foi um bom desfecho
ou porque eu não concordo
Ou uma bela puxada no tapete
ou porque eu mesma me enrolo
Não dá outra: tiro o chinelo...
E dou uma morrida!
Não atendo telefone, campainha...
Fico aí camisolenta em estado de éter
nem zangada, nem histérica, nem puta da vida!
Tô nocauteada, tô morrida!
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Morte cotidiana é boa porque além de ser uma pausa
não tem aquela ansiedade para entrar em cena
É uma espécie de venda
uma espécie de encomenda que a gente faz
pra ter depois ter um produto com maior resistência
onde a gente se recolhe (e quem não assume nega)
e fica feito a justiça: cega
Depois acorda bela, corta os cabelos
muda a maquiagem
reinventa modelos
reencontra os amigos que fazem a velha e merecida
pergunta ao teu eu: "Onde cê tava? Tava sumida, morreu?"
E a gente com aquela cara de fantasma moderno,
de expersona falida:
- Não, tava só deprimida.
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terça-feira, fevereiro 10, 2009

by Frederick Perls

.Eu faço minhas coisas, e você faz as suas.
Eu não estou neste mundo para viver as suas expectativas, e você não está neste mundo para viver as minhas.
Você é você e eu sou eu. [o.Õ]
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Se por acaso nós nos encontrarmos, será ótimo.
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Se não, nada se pode fazer.
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domingo, fevereiro 08, 2009

Pensamento cretino do dia


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Para mim, jogar a
toalha não é desistir,
é ficar pelado.

Os suicidas são os únicos que entenderam a vida?

Em julho de 1974, uma jornalista, âncora de um tele-jornal da Flórida suicidou-se enquanto o programa estava no ar.(!) Seu bilhete suicida dizia apenas como ela estava descontente com o fato das pessoas (inclusive a imprensa) darem mais valor às notícias sobre tragédias. Em sua carta, dizia que não havia mais nada a ser dito. Ela simplesmente começou o programa sentada à mesa como em qualquer tele-jornal, tirou a arma e atirou em sua cabeça. Os produtores do programa acharam que tratava-se de uma brincadeira, sua família brigou na justiça para proibir a emissora de veicular o vídeo de seu suicídio. Ainda bem que não havia YouTube naquela época.
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2003. Jonathan Brandis, protagonista de História Sem Fim e do seriado Seaquest, é encontrado enforcado em sua casa. Ele tinha 27 anos. À época, sua amiga de infância conta que quando adolescente Jonathan conversava sobre os rockstars que morreram com 27 anos e de como isso era ao mesmo tempo assustador e poético. O jovem ator suicidou-se de uma forma totalmente absurda. Nesse caso, não houve acidente.
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Isso me lembrou uma música de uma banda incomum de um país muito incomum.
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Anthony caminhou para sua morte porque acreditava que jamais se
sentiria desta forma
Talvez se voltasse atrás as coisas seriam ainda piores, o que ele poderia fazer?
Ele gostaria de se lembrar de como as coisas eram naquela quarta-feira
E, se acaso havia algo de ruim por trás de tudo, ele nunca disse
Talvez por achar melhor viver hoje o amanhã que sonhava...
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Hilary caminhou para sua morte porque não tinha mais nada a dizer
Todos achavam que ela era forte demais então nunca prestaram atenção
E como ninguém dizia nada de interessante, ela desistiu
Tentou frequentar os templos e os estudos da bíblia
Mas somente o intervalo do chá a interessava
O intervalo do chá, ela não admitiria
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Hilary buscou a igreja católica para saber sobre seu destino
O padre ou seja lá quem ele fosse, a chamou numa sala e lhe confirmou
Santa Tereza prometeu salvá-la
Mas Isabel só pensava em como os vitrais eram belos
E, se havia algo além disso
Ela só queria saber
Como, por que e para onde ir?
Como, por que e para onde deveria seguir?
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Se você se sente ameaçado
Procure um Padre ou Pastor
Ele tentará em vão livrá-lo da dor
De ser um incrédulo sem esperança...
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quarta-feira, fevereiro 04, 2009

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Eu tenho medo
de ir para o céu
e ver
só gente rezando
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De ir para o inferno
e ver só gente
vendo televisão.

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segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Eterno retorno

Sempre que venho aqui volto a lembrar. Não foi minha intenção te deixar, mas a vida segue mesmo assim. Lembro-me daquela praça e de nossas tardes tecendo frases de efeito; as promessas quebradas e os beijos roubados, nossa paixão reprimida, nosso amor idealizado. Hoje nossos corpos não ocupam o mesmo lugar em nenhum espaço e apesar de ainda lembrar, sinto que estas palavras perdem-se em meu pobre discurso contraditório, estas frases jamais o tocarão. Continuo cantando nossas canções, além daquelas que imagino que cantas pensando em mim. Nossas notas não se encontram mais, nossos acordes nunca produziram aquela melodia que procurávamos cantar a sós.
A vida encarrega-se de sanar todas as dívidas, curar as feridas e destruir nossos sonhos mais ingênuos.
Quando te olhei nos olhos uma última vez, não mais encontrei as cores que costumavam preencher o preto e branco que sempre foi minha vida.
Naquelas tardes sempre imaginava quem eu seria... Mas até hoje não consigo me explicar... Jamais imaginei que seria assim.
Meu tempo é sempre o passado, uma palavra já dita, um soneto já executado, minhas idéias são sempre nostálgicas.
Nosso amor acabou, nossa banda desafinou, nossos passos fraquejaram, e é assim mesmo, sou quem sou, temo meus próprios ideais, estes que não guardam lógica alguma. Sou uma procura e a chegada a um lugar que não tem resposta alguma. Mas e daí? Quem tem as respostas?




E já estamos no fim...

... da primeira década dos anos 2000..
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.Primeira parte do post removida, por ter sido escrita em intenso estado de insanidade.
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De lá pra cá, grandes momentos, altos e baixos. Conquistas, derrotas, perdas... Lembro de cada detalhe como se fosse hoje
2009 e, conforme o tempo passa, mais claro torna-se pra mim o Carpe Diem, que só faz se completar com o Tempus Fugit, uma das frases mais certas que já ouvi na vida... Aproveite o dia, o tempo voa...
.Esse ano não começa com tamanha felicidade como foi há 9 anos, mas não faltam perspectivas.
.Aliás, pensei em algo agora... O que eu considerava a maior das felicidades há nove anos, hoje não é lá tudo isso... Como a vida pode nos tirar essas coisas? A gente vai envelhecendo e nosso horizonte se amplia (não acontece assim pra todos, é fato), e é aí que nossa santa inocência se perde... Inocência no sentido do infantil mesmo... Quando se é mais jovem as coisas menores (mas não menos importantes) fazem mais sentido.
É uma coisa engraçada o ciclo/círculo/circo da vida... Vou tentar explicar melhor dando dois exemplos: A filha de um amigo, com 4 anos, chega perto de mim com um brilho nos olhos, me chamando como se não pudesse esperar nem mais um segundo e diz: "Vem ver que lindo esse sapo".
Segundo exemplo: Uma paciente, onde trabalho, 78 anos, carinhosamente chamada de "vó" por mim, falando das modernidades de hoje em dia, me pergunta: "Será que dá pra encontrar mesmo as pessoas pela internet?". E eu, respondo que às vezes sim, e pergunto o motivo. Então ela: "Porque eu queria encontrar um rapaz que namorei quando era jovem, acabei casando com outro, mas ele me disse que jamais se casaria com ninguém".
.Como é doce a ingenuidade! A garotinha acreditando na beleza, e a vovozinha no amor...
.Então quer dizer que é assim, nascemos agraciados com o dom da ignorância, aí crescemos e nos é revelada a peça que a vida nos pregou: Passamos longos anos rindo pra não chorar (sentido literal), correndo atrás do vento (sentido figurado - para alguns nem tanto, vale dizer), oscilando entre momentos miseráveis de fiasco total e alguns outros de pleno contentamento que servem para manter acesa a chama de que um dia você será feliz... Até que um dia essa chama se torna brasa. Aí você envelhece e o que acontece? O retorno à ingenuidade!
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T.S.Eliot definiu bem:
"Ao final de nossas longas explorações chegaremos novamento ao lugar de onde partimos e o conheceremos então pela primeira vez."
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Então, que nesse novo ano, você tenha tranquilidade para viver, que o dinheiro venha como resposta saudável do trabalho que o faz acordar cedo todos os dias, que suas apostas não sejam no outro mas em você mesmo, que a sua felicidade dependa do que você fizer e não do que fizerem com você, que domingos sejam mais do que churrascos gordurosos, que ninguém mude sua vida sem que você consinta, que seus vizinhos gostem de boa música. E, acima de tudo, que você seja muito feliz com a futura pessoa na qual está se transformando.
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